Homilia do Pe Fernando Cardoso - 08 de maio de 2011

Neste terceiro domingo da Páscoa, novamente ouvimos e proclamamos um texto de Lucas, que trabalha magistralmente uma antiga e tradicional aparição de Jesus a dois discípulos que não entraram, mais tarde, no elenco escriturístico das testemunhas qualificadas e oficiais da ressurreição. Trata-se de Cléofas e um companheiro seu anônimo. Os dois cabisbaixos, tristes e derrotados deixavam Jerusalém após a Paixão. Jesus - diz Lucas no texto – aproxima-Se e encarrega-Se, num primeiro momento, de aquecer-lhes o interior e o coração; e o faz explicando-lhes as Escrituras.

A Igreja usa esta pedagogia de Lucas todos os domingos, porque a cada domingo reúne seus fiéis e, em primeiro lugar, lhes expõe a Palavra de Deus que é alimento, que é catequese, que é recebida na docilidade da fé e é capaz não apenas de aquecer o coração, mas de transformá-lo e torná-lo apto à vida em Jesus Cristo. Se os nossos corações não se aquecem, se para nós religião, Cristianismo, Evangelho, Vida em Cristo, contato com Deus e intimidade divina não nos dizem muito, ou nos deixam simplesmente insensíveis, é porque falta a docilidade, o apelo ao Espírito Santo e sobretudo um maior empenho e esforço em nos aplicar à Palavra de Deus que, pouco a pouco, transforma um coração de pedra, um coração insensível, um coração sem afeto, em um coração fervoroso para Deus.

A Igreja tenta fazer isto todos os domingos, e não apenas a Liturgia da Palavra ela apresenta aos fiéis. Apresenta também a Eucaristia, sempre de acordo com este texto de Lucas, pois Lucas nos diz que os dois reconheceram finalmente Jesus dentro da casa, na intimidade do lar e na fração do pão. Este texto repete-se conosco a cada domingo. Somos chamados à Igreja, em assembléia, a nos unir com nossos irmãos na fé, a ouvir a Palavra e receber o Corpo imolado, o Sangue derramado de Cristo. E como fruto desta celebração deveríamos sair de nossas assembléias com o coração inflamado. Se isto não acontece, alguma coisa está errada. Algum erro introduziu-se quer na celebração litúrgica, quer em sua presidência, quer no modo de participação por parte dos fiéis leigos, quer sobretudo nos sentimentos internos do coração.

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