PACIÊNCIA: QUEM TEM A CULPA DA IMPACIÊNCIA?

Se alguém nos perguntasse agora mesmo: – “Por que você fica impaciente?”, logo apontaríamos o culpado: – “Tal contrariedade mais ou menos frequente, mais ou menos constante”, “o caráter de tal pessoa”… O culpado, o agente provocador, é sempre a pessoa ou a situação que azucrina e faz sofrer.
Caso pensemos assim – com esta simplificação tão cândida –, será bom que observemos um fenômeno: nem todo o mundo fica impaciente diante das mesmas coisas ou o mesmo tipo de pessoas. Há, portanto, “algo” dentro de nós que nos faz receber “determinadas” contrariedades – muitas ou poucas – de um modo negativo, que desemboca na impaciência. O que é esse “algo”? Se conseguirmos enxergá-lo, teremos aberto um bom caminho para diagnosticar as causas da impaciência e para ver os remédios que conduzem à mais saudável paciência.
Pensemos, além disso, que – tal como acontece com a preguiça –, afora os casos raros de infecção generalizada (como a “preguiça integral” e a “impaciência permanente”), o defeito da impaciência costuma ser “especializado”. Cada um de nós tem as “suas” impaciências particulares, mexe-se dentro do campo da sua especialização.
Pode ser que pertençamos, por exemplo, à turma daqueles “especialistas” que não têm paciência para escutar o próximo, sobretudo o mais próximo (marido, mulher, filhos). Sempre me recordarei de um bispo velhinho, a quem – por razões de trabalho – visitava faz muitos anos com certa frequência. Como muitos anciãos, gostava de recordar coisas passadas, e eu – por respeito e inibição, pois era muito jovem – ficava a ouvi-lo, de modo que praticamente nunca abria a boca: limitava-me a deixá-lo falar e aquiescer. Passado algum tempo, soube com espanto que ele comentou com um meu colega que eu “tinha uma conversa muito agradável”! Senti vergonha, e aprendi uma lição.
Para mencionar outro exemplo: não pertenceremos por acaso à turma especializada dos que jamais admitem interrupções? Estão “na deles” e dali não saem. Por mais que um filho, ou a esposa ou qualquer outra pessoa precise da sua atenção, da sua palavra ou da sua ajuda, o “homem-intrinsecamente-ocupado-em-suas-coisas-muito-importantes” vai limitar-se a “responder” fulminando-os com um olhar de poucos amigos, unido a um ronco gutural ininteligível, mas perfeitamente interpretável.
E, ainda, não pertenceremos talvez àquele outro rol de pós-graduados, conhecido como “a turma dos impacientes mascarados”? – “Sou muito paciente, dizem esses tais. Não brigo nunca!” Mas sempre, sistematicamente, fogem, lisos como uma cobra d’água, de enfrentar questões difíceis e aborrecidas (uma conversa a fundo com o filho, muito necessária), de aceitar compromissos  ou de assumir responsabilidades. A razão disso não está nem na falta de tempo nem na falta de habilidade, mas no fato puro e simples de que “não querem saber”, “não querem ter trabalho”, ou seja, não querem sofrer.
Pois bem, está na hora de lembrar que a virtude da paciência é “a arte de sofrer”, e que a paciência cristã é “a arte de sofrer com fé, esperança e amor”. Entende, por isso,  por que a aparente paciência de quem se esquiva de enfrentar os sacrifícios da vida, na realidade é a mais envenenada “antipaciência”? Porque fugir das dificuldades é muito cômodo, mas não é virtude nenhuma, é antivirtude, é uma lamentável falta de generosidade para aceitar com responsabilidade – e com espírito de fé, com confiança na ajuda de Deus e com compreensão − os sacrifícios e os sofrimentos que Deus nos pede abraçar.
Adaptação de um trecho do livro de F. Faus A paciência, 3a edição, Quadrante 2015

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