Sacerdote é o bom perfume de Deus no mundo, diz pregador do Papa

Da Redação CN, com Rádio Vaticano

Cada sacerdote deve manifestar "o bom perfume de Deus no mundo". Foi o que disse nesta sexta-feira, 11, o pregador da Casa Pontifícia, frei Raniero Cantalamessa, em sua segunda pregação do Advento ao Papa Bento XVI e aos membros da Cúria Romana.

Ao falar da sacralidade conferida ao sacerdote pela unção sacerdotal, frei Cantalamessa censurou a infidelidade daqueles presbíteros que dando escândalo provocam a rejeição de Cristo da parte das pessoas.

"É possível que o 'perfume' de Deus se transforme em 'mau cheiro'?. Sim, se quem foi imbuido para difundi-lo, por graça e ministério, como um sacerdote se comporta com aquele 'árido intelectualismo', ou pior, com aquelas posturas escandalosas que impedem o perfume de expandir-se ou, por meio dessas, causam a degeneração". A metáfora foi utilizada por frei Cantalamessa de modo incisivo durante a meditação dedicada aos sacerdotes como "Ministros do Espírito", segundo a definição de São Paulo. Como Cristo, o sacerdote é "ungido" por Deus e tal "unção" comporta alguns efeitos concretos, experimentáveis, na jornada de um sacerdote:

"Ter a unção significa, portanto, ter o Espírito Santo como 'companheiro inseparável' na vida, fazer tudo 'no Espírito', na sua presença, com a sua condução. (..) Tudo isso se traduz, de modo externo, ora em suavidade, calma e paz, ora em autoridade (...) É uma condição caracterizada por uma certa clareza interior que dá facilidade e segurança no fazer as coisas. Um pouco como é a 'forma' para o atleta ou a inspiração para o poeta", destacou.

Segundo o pregador da Casa Pontifícia, a unção, portanto, confere uma verdadeira força interior graças ao Espírito Santo. Todavia, observou, existe um risco comum em todos os sacramentos:

"... Aquele de firmar-se no aspecto ritual e canônico da ordenação, a sua validade, e não em dar muita importância (..) ao efeito espiritual, à graça própria do Sacramento, neste caso, ao fruto da unção na vida do sacerdote. A unção sacramental nos habilita a realizar certas ações sagradas, como governar, pregar, instruir; nos dá, por assim dizer, a autorização a fazer certas coisas, não necessariamente a autoridade ou propriedade no fazê-las; assegura a sucessão apostólica, não necessariamente o sucesso apostólico"

Se então "a unção é dada pela presença do Espírito e é dom seu, o que podemos fazer para tê-la?", questionou o pregador. "Antes de tudo rezar. Existe uma promessa explícita de Jesus: "o Pai celeste dará o Espírito Santo àqueles que o pedirem"(cf. Lc 11,13). Em seguida, também nós devemos romper o vaso de alabasto como a pecadora na casa de Simão (cf. Mc 14,3-9). O vaso é o nosso eu, às vezes, nosso árido intelectualismo. Rompê-lo, significa negar a si mesmo, ceder a Deus, com um ato explícito, as rédeas da nossa vida. Deus não pode entregar o seu Espírito Santo a quem não se entrega inteiramente a Ele", enfatizou.

Frei Cantalamessa prosseguiu afirmando que nem sempre é algo espontâneo, para um sacerdote, "colher em profundidade o significado da unção sacerdotal e, sobretudo, encontrar nela a fonte de suas riquezas". Neste caso, disse, "acontece como um frasco de perfume. Nós podemos mantê-lo guardado ou segurá-lo nas mãos até quando queiramos, mas se nós não o abrirmos o perfume não se espalha, é como se não existisse".

E citando um trecho de São Paulo aos Coríntios, Frei Cantalamessa destacou que "isto deveria ser o sacedote: o bom perfume de Cristo no mundo!, mas o apóstolo nos coloca um aviso, acrescentando logo depois: 'temos este tesouro em vasos de barro'. (...) Jesus dizia aos apóstolos: 'Vós sois o sal da terra; mas se o sal se tornar insípido o que ele vai salgar? Não se serve para nada, senão a ser jogado fora e pisado pelos homens'".

A verdade desta palavra de Cristo é dolorosamente coloca aos nossos olhos. Também o unguento se perde o odor e se gasta, se transforma em seu contrário, em mau cheiro, e ao invés de levar a Cristo o afasta dele.

"Tantos", constatou o pregador pontíficio, são sacerdotes "ignorados pelo mundo", que difundem "no seu ambiente o bom odor de Cristo e do Evangelho". E concluiu citando o perfil ideal do sacerdote descrito por padre Lacordaire, religioso francês do sec. VIII:

"Viver no meio do mundo sem nenhum desejo para os seus prazeres; ser membro de cada familia, sem pertencer a nenhuma delas; compartilhar de cada sofrimento, estar ao lado de cada segredo, curar cada ferida; e todos os dias, dos homens à Deus, para oferecer-lhe a sua devoção e as suas orações, e sair de Deus para os homens para levar a eles o seu perdão e a sua esperança; ter um coração de aço pela castidade e um coração de carne pela caridade (...) óh Deus, que gênero de vida é este? É a tua vida, óh sacerdote de Jesus Cristo".

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