À primeira vista isso é assunto para se envergonhar. Parece ser tema que sobrou dos tempos de antanho. Nos dias atuais estaríamos acima de tal preconceito. Sentir pudor (vergonha) seria um ensinamento equivocado de nossas mães. Na intenção delas, cultivar esse sentimento seria para salvaguardar valores, imprimir autoestima pelo nosso corpo e transmitir respeito diante de outras pessoas. Mas eu acho que isso não vem só de nossas mães.
O fato é que sentir vergonha é uma defesa que se encontra no meio de todos os povos. Tive ocasião de, no mês de outubro de 2009, estar na aldeia Surucucu, na Amazônia, onde vivem indígenas Yanomami, dos mais primitivos do planeta. Eles não usam roupas, mas tanto eles como elas usam o assim chamado tapa-sexo. Nenhum "cara pálida" ensinou isso a eles. Está na tradição mais antiga daquele povo. Nem admitem tirar fotos (desejo de privacidade). Disso concluo que nossas queridas mães apenas reforçam essa educação. O recato e a decência estão no nosso sangue. Não sentir pudor parece indicar que não apresentamos diante de outrem a riqueza da nossa personalidade. Mas selecionamos uma oferta carnal, reducionista de nós mesmos, sem a grandeza do amor.
Considero esse sentimento um valor a ser preservado. É como honrar pai e mãe, princípio que não pode ser eliminado jamais. O Ministério da Educação querer oferecer, gratuitamente, camisinhas nas escolas, é o cúmulo da deseducação, pois ensina a vilipendiar o corpo e a menosprezar o amor. Já na segunda página da Bíblia lemos: "Tive medo, porque estou nu, e me escondi" (Gen 3, 10). Todos nós, por sentimento de pudor, não admitimos conversas íntimas com qualquer pessoa.
Os segredos de nossa vida particular não os revelamos em público. Perguntas indiscretas não merecem resposta. Na nossa casa não deixamos entrar estranhos. Até a polícia precisa ter autorização para adentrar nossa residência. Queiram-me bem. Garantidamente, onde não existe pudor, não há castidade. E esta é um alto valor da vida humana. O povo não diz diante de pessoas despudoradas: "Não tem vergonha na cara"? A nova geração deve ser ajudada para aprender que o recato é uma riqueza da vida.
Dom Aloísio Roque Oppermann SCJ
Arcebispo de Uberaba, MG. domroqueopp@terra.com.br
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