A discriminação é inadmissível

Deus não faz distinção entre homem e mulher

Desde as civilizações mais antigas até o momento, o tratamento às pessoas é feito de forma discriminatória, segundo o sexo, por razões religiosas, culturais, sociais e políticas. Essa realidade é encontrada nos costumes e lida na literatura de muitos povos. De fato, nesses ambientes, a criança é aceita ou rejeitada, ao nascer, conforme o sexo. Isso acontece de forma velada ou explícita, segundo os padrões existentes. Em tempos passados, também em decorrência desse substrato religioso, cultural, social e político, por conta do desconhecimento do seu sexo, a expectativa do nascimento de uma criança expressava anseios e temores, especialmente nos pais e familiares. Não deixa de ser um dado surpreendente o fato de se constatar esse fenômeno tanto em etnias ainda muito impermeáveis quanto em estratos muito esclarecidos da sociedade moderna. A discriminação a uma pessoa é inadmissível, sob qualquer aspecto, e a legislação dos Estados modernos aplica penas pertinentes. Qualquer que seja a sua matriz, é moralmente grave a discriminação que se pratica contra fetos e recém-nascidos, em razão do seu sexo. Paradoxalmente, a legislação de muitos países legitima essa injustiça.

A discriminação a meninos e meninas, por decisões políticas, é uma das mais injustas e chocantes; por sinal, é muito antiga e muito atual. Basta olhar a punição do faraó do Egito, o nazismo de Hitler na Alemanha e a política da China contemporânea. “Depois o rei do Egito disse às parteiras dos hebreus, chamadas Sefra e Fuá: ‘Quando assistirdes as mulheres hebreias no parto e chegar o tempo do parto, se for menino, matai-o; se for menina, deixai-a viver.’ Mas as parteiras tinham temor de Deus: não faziam o que o rei do Egito lhes tinha mandado e deixavam viver os meninos. Então o faraó deu esta ordem a todo o seu povo: ‘Lançai ao rio todos os meninos recém-nascidos, mas poupai a vida das meninas’.” (Ex 1,15-17.22) Eis a razão da iniquidade do faraó: “ 'Olhai como a população israelita ficou mais numerosa e mais forte do que nós. Vamos tomar providências em relação a eles, para impedir que continuem crescendo e, em caso de guerra, se unam aos nossos inimigos, lutem contra nós e acabem saindo do país'” (Ex 1,9-10).

O nazismo de Hitler não fazia discriminação entre meninos e meninas, mas os discriminava por serem crianças: “Os nazistas não coagiam as detidas grávidas ao aborto, esperavam até o parto (penso que fossem simplesmente cientes da gravidade do trauma que o aborto representa para o organismo da mãe) e isso não por motivos altruístas, mas simplesmente para não reduzir a mão de obra: esperavam o regular parto fisiológico, para não ter mulheres doentes. Depois do parto, aqueles meninos ou eram deixados na enfermaria, sem alimento, até a morte por inanição ou eram jogados vivos diretamente no 'Heizung'.” (“Nos fornos”). A razão dessa atrocidade contra meninos e meninas devia-se ao fato de serem “consumidores inúteis de comida”.

Na China, “A 'política do filho único', implementada no início dos anos 80 para frear o crescimento demográfico do país mais populoso do mundo, penaliza ter um segundo filho. Por esse motivo, é frequente que as famílias chinesas, que valorizam mais o nascimento de um homem, abortem quando sabem que o feto é uma menina.” “As meninas são as maiores vítimas da pressão intolerável para limitar a família. Na China rural, onde 80% da população vive, muitos camponeses acreditam que apenas os meninos podem levar a família adiante e consideram que seria uma grande desonra para seus ancestrais se eles não terem (sic) um herdeiro.” “Normalmente, as filhas continuam vivendo com a família depois do casamento e são consideradas um 'investimento perdido'.” Embora não seja por razões morais, hoje, já se faz uma leitura diferente dessa barbaridade: “As consequências sociais e econômicas da política do filho único imposta há décadas na China estão preocupando os peritos, pois o desequilíbrio de sexos e o número mais reduzido de jovens trará problemas ao sistema de pensões e gerará 24 milhões de solteiros em 2020.”

Deus não faz distinção entre homem e mulher porque os criou à sua imagem e semelhança.

Dom Genival Saraiva
Bispo de Palmares - PE

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