A pedofilia e a pederastia envolvendo pessoas do clero

A pedofilia é abominável e envolve toda a sociedade, não envolve apenas as pessoas da Igreja Católica. Certamente, a falta se torna mais grave ainda quando se trata de um religioso, pois o erro de um deles gera um escândalo gigantesco. Não há justificativa para esses atos, e todos os culpados devem ser punidos nos temos da lei, sejam eles membros da Igreja ou não.

:: Papa escreve aos cristãos da Irlanda sobre abusos sexuais

A Igreja sempre pregou que esse é um pecado grave e sempre o combateu em seus documentos. Pode ser que, no passado, talvez por um mal-entendido de defesa do bom nome da instituição, alguns bispos, na prática, tenham sido muito indulgentes com os erros de alguns sacerdotes, mas há bastante tempo a Igreja tem agido para coibir isso.

Monsenhor Charles J. Scicluna, promotor de justiça da Congregação para a Doutrina da Fé, fiscal que investiga os delitos de ordem sexual, diz que esta Congregação, nos últimos nove anos (2001-2010), analisou as acusações relativas a cerca de 3.000 casos de sacerdotes diocesanos por faltas cometidas nos últimos 50 anos. Ele afirma que cerca de 60% desses casos, trata-se mais de atos de “efebofilia”, ou seja, devidos à atração sexual por adolescentes do mesmo sexo (pederastia). Disse que “o Santo Padre assumiu a dolorosa responsabilidade de autorizar um decreto de demissão do estado clerical para muitos casos”. Então, na maioria das vezes, não se trata de pedofilia, mas de pederastia, isto é, padres com tendências homossexuais que se relacionam sexualmente com crianças ou jovens [www.acidital.com – Vaticano,13 Mar.2010].

O caso mais recente aconteceu em Arapiraca (AL), e foram noticiados na TV em 11 de março de 2010, no programa “Conexão Repórter”, da Emissora SBT, contendo acusações feitas ao Monsenhor Luiz Marques Barbbosa, Monsenhor Raimundo Gomes do Nascimento e Padre Edílson Duarte. O senhor bispo diocesano de Penedo, AL, Dom Valério Breda, veio a público, em 14/3/2010, por meio de uma Nota esclarecedora, na qual reprova o acontecido, afasta os padres de suas funções eclesiásticas, decreta a abertura de Processo Administrativo Penal nos termos do Código de Direito Canônico, e coloca-se à disposição da polícia e da justiça para o que se fizer necessário. O senhor bispo agiu de imediato e tomou as providências cabíveis para os devidos inquéritos.

A Igreja tem tomado medidas sérias para enfrentar esse triste problema. O Papa João Paulo II já tinha dito aos bispos americanos que “as pessoas devem saber que não existe, no sacerdócio e na vida religiosa, lugar para aqueles que querem prejudicar os jovens”. O Papa Bento VI, falando aos bispos irlandeses, disse que “os abusos sexuais sobre as crianças e jovens não é apenas um crime abominável, mas também um grave pecado que ofende a Deus e fere a dignidade da pessoa humana criada à sua imagem”. Ele pediu aos bispos que “cuidem de tratar com determinação os problemas do passado, para resolver e fazer face com honestidade e coragem à presente crise”. Por outro lado, o Papa Bento XVI forçou a renúncia de quatro arcebispos de Dublin [1].

O Observador Permanente da Santa Sé ante a ONU em Genebra, Dom Silvano Tomasi, deixou claro, em 11de março de 2010, que “a Igreja Católica não descansa em sua luta contra os abusos sexuais de menores em todo mundo e este tema é de vital importância na agenda eclesiástica”. Em sua intervenção intitulada “a luta contra a violência sexual contra as crianças”, pronunciada na 13° sessão do Conselho de Direitos Humanos que trata o tema dos direitos das crianças, o núncio recordou que “o abuso sexual de menores sempre é um crime execrável”. (acidigital.com,12 Mar.2010)

Dom Cláudio Hummes, Prefeito da Sagrada Congregação do Clero, deixou claro, durante entrevista em Roma, na revista ‘Vida Nova’ que: “Não há lugar no ministério sacerdotal para pedófilos”; e qualificou a pedofilia como “um crime terrível”. Dom Cláudio disse que a Igreja não pode fechar os olhos perante este problema.”A Igreja não pode aceitar os casos de pedofilia. Os culpados devem ser punidos tanto com as leis civis como com as canônicas”. No entanto, Dom Hummes deixou claro que a maioria do clero “não tem nada a ver com estes problemas”. Assim, disse que a Igreja deve reagir e não aceitar que seja esta a imagem do sacerdote católico, formada, conforme disse, “com um preconceito negativo muito forte, que humilha e fere a imensa maioria dos sacerdotes”.(Vaticano, 26 Jun. 2009; acidigital.com)

Não é só na Igreja que esses tristes casos acontecem; em seguida, mostro algumas notícias sobre o assunto:

1- Denúncias de pornografia infantil na web ultrapassam 25 mil no Brasil - [2]
“No primeiro semestre deste ano, a ONG Safernet recebeu 25.212 denúncias referentes à pornografia infantil na internet. Desse conteúdo, cerca de 40% das páginas foram removidas pelos provedores responsáveis pelos serviços por conterem indícios suficientes de crime por violação a termo de uso. As informações foram divulgadas por meio de um comunicado do Ministério Público Federal de São Paulo.”

2- SC: pastor pega 71 anos por abusar de 2 crianças [3]
Fabrício Escandiuzzi - Direto de Florianópolis
“Um pastor foi condenado pela Justiça de Santa Catarina a 71 anos de prisão pelos crimes de estupro e abuso sexual contra duas crianças na cidade de Blumenau (SC), localizada a cerca de 200 km de Florianópolis. Célio Voigt, 47 anos, era pastor da Igreja Prebisteriana. Casado e pai de três filhos, ele cometeu os crimes contra um menino de 10 anos e uma menina de 8 anos.”

3- Polícia investiga suposta rede de pedofilia em Mairinque (SP) [4]
“A Polícia Civil investiga a existência de um esquema de exploração sexual de menores de idade na cidade de Mairinque (71 km de São Paulo). Cinco homens são suspeitos de integrar uma rede de pedofilia na cidade. Os nomes não foram divulgados. O caso está sob sigilo.”

4- Procuradoria põe Franca (SP) como ponto vital contra a pedofilia –[5]
“A Procuradoria Geral de Justiça do Estado de São Paulo colocou Franca (400 km de São Paulo) na lista das sete cidades paulistas em que deve haver combate prioritário à violência sexual, física e psicológica contra crianças e adolescentes. O Diário Oficial do Estado publicou, na última semana, a formação de um grupo de trabalho para mapear os casos de violência sexual contra crianças em redes de pedofilia, domésticas –praticados por pais ou parentes– e prostituição infantil.”

5- Silêncio rasgado – (Revista Veja – março 2009)

“Pedofilia na classe média: pais e padrastos são os agressores mais frequentes; e as meninas, a totalidade das vítimas. Mas está mais difícil esconder os abusos. (Laura Diniz)
Nos últimos cinco anos, o número de casos de violência sexual contra crianças de classe média subiu de zero para 22% nos registros médicos oficiais de São Paulo. É o que mostra uma pesquisa inédita realizada pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas em Psiquiatria Forense e Psicologia Jurídica (Nufor) do Hospital das Clínicas de São Paulo. Coordenado pelo psicólogo Antonio Serafim, o estudo baseou-se na análise dos casos de 118 vítimas de pedofilia que chegaram ao Nufor de 2004. Em 71% dos casos, o abusador é o pai ou o padrasto.”

Fica claro que a pedofilia e a pederastia ultrapassam muito as fronteiras da Igreja, mas os holofotes se voltam muito mais sobre ela. Os filhos da Igreja também são homens pecadores, mas nem por isso a Igreja deixa de ser santa (cf Ef 5, 25s) e têm a confiança do povo. A imensa maioria dos padres têm uma vida digna com uma grande dedicação ao Reino de Deus. Eles não podem ser acusados ou menosprezados pela culpa de uma minoria que se comporta mal.

1-http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia182/2010/02/16/mundo,i=173896/PEDOFILIA+CAUSA+INDIGNACAO+NA+SANTA+SE.shtml

2-http://www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ult124u604243.shtml - Folha Online - 03/08/2009 - 16h00

3-http://noticias.terra.com.br/brasil/interna/0,,OI2131889-EI5030,00.html – 06/12/2007 - 21h32 Atualizada às 22h06

4-Agência Folha de SP - 24/03/2009 - 21h11-ROBERTO MADUREIRA - Folha Ribeirão 24/03/2009 - 10h41

Felipe Aquino

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