Igreja não está em declínio, é sempre lugar de graça, diz Papa

Leonardo Meira
Da Redação CN


Os erros de perceber toda a história da Igreja como um declínio permanente, bem como a "utopia espiritualista" de pensar que haveria surgido outra Igreja após o Concílio Vaticano II, foram diagnosticados por Bento XVI na Catequese (Audiência Geral) desta quarta-feira, 10.

O Papa continuou a meditar sobre a figura de São Boaventura, sobre o qual havia falado na semana passada, enfocando parte de sua obra literária.

.: NA ÍNTEGRA: Catequese de Bento XVI

Bento XVI enfatizou que a "utopia espiritualista" não condiz com a verdadeira natureza da Igreja, que foi questionada após o Concílio Vaticano II:

"Nós sabemos como, depois do Concílio Vaticano II, alguns estavam convencidos de que tudo é novo, que há uma outra Igreja, que a Igreja pré-conciliar é finita e teríamos outra, totalmente diferente. Um utopismo anárquico e, graças a Deus, os sábios timoneiros da barca de Pedro - Papa Paulo VI, Papa João Paulo II - defenderam, por um lado, a novidade do Concílio e, ao mesmo tempo, a unicidade e continuidade da Igreja, que é sempre Igreja de pecadores e sempre um lugar de graça".

Para quem imagina que a história da Igreja seria um declínio, ou algo embasado em ideias rígidas e imóveis, o Santo Padre oferece como resposta uma frase do santo franciscano: "Também hoje vale afirmar: 'Opera Christi non deficiunt, sed proficiunt' ['As obras de Cristo não retrocedem, não são enfraquecidas, mas progridem'], ide avante. São Boaventura nos ensina, pelo exemplo, o discernimento necessário do realismo sóbrio e da abertura a novos carismas doados por Cristo, no Espírito Santo, à sua Igreja".

A propósito das ideias novas propostas por Boaventura para resolver certos problemas teológicos que surgiam na Ordem naquela época, Bento XVI destacou: "A riqueza das palavras de Cristo é inesgotável, e também entre as novas gerações podem parecer novas luzes. A unicidade de Cristo também nos garante novidade e renovação em todos os períodos".

O Santo Padre terminou sua reflexão salientando que é preciso acolher o convite de São Boaventura, a entrar na escola do Divino Mestre. "Purifiquemos os nossos pensamentos e as nossas ações, para que Ele possa habitar em nós, e nós possamos compreender a sua voz divina, que nos atrai para a verdadeira felicidade", concluiu.

A Catequese desta quarta-feira teve dois momentos distintos, o que é pouco comum: primeiro, na Basílica Vaticana, o Santo Padre encontrou os participantes da peregrinação da Fundação Padre Carlo Gnocchi, sacerdote milanês beatificado em outubro de 2009. O Papa fez um apelo à solidariedade com a população da Turquia, recentemente atingida por um terremoto, bem como com as vítimas da violência na Nigéria.


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Na época de São Boaventura - século XIII - surgia dentro da Ordem Franciscana uma corrente chamada de "espiritual", que acreditava que a Igreja já havia cumprido seu papel histórico e deveria ser substituída por uma comunidade de homens livres das antigas estruturas hierárquicas eclesiais.

"Este mal-entendido comportava uma visão errônea do cristianismo como um todo", destacou o Papa. O santo franciscano combateu tal erro, que estava embasado em uma ideia teológica de ritmo trinitário da história, proposta pelo abade cisterciense Joaquim da Fiore: "Ele considerava o Antigo Testamento como a era do Pai, seguida pelo tempo do Filho, o tempo da Igreja. Havia ainda que se esperar pela terceira era, aquela do Espírito Santo", explicou Bento XVI.

A partir da resposta de Boaventura a esses erros, o Pontífice destacou pontos cruciais:

"1. São Boaventura rejeita a ideia do ritmo trinitário da história. Deus é um só para toda a história e não pode ser dividido em três divindades; [...]
2. Jesus Cristo é a última palavra de Deus - n'Ele, Deus disse tudo, dizendo e dando a si mesmo. [...] Portanto, não há um outro Evangelho superior, não há uma outra Igreja a se esperar. Por isso, também a Ordem de São Francisco deve inserir-se nesta Igreja, na sua fé, no seu ordenamento hierárquico; [...]
3. Isso não significa que a Igreja seja imóvel, fixa no passado, e não possa exercer novidade alguma"

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