"O medo se torna algo patológico quando me impede de transpor as situações"

Manuela Mello

"O medo se torna algo patológico quando me impede de transpor as situações"

O portal cancaonova.com entrevistou a psicóloga e missionária da Canção Nova Manuela Mello para saber mais sobre o tema "medo". Neste depoimento a consagrada esclarece quando esse sentimento é natural, como parte do nosso instinto de sobrevivência, e quando ele se torna uma patologia interferindo na nossa qualidade de vida.

No áudio abaixo você confere na íntegra o bate-papo



cancaonova.com: Como nós podemos definir o medo?


Manuela: Nós podemos dizer que o medo é um sentimento de alerta diante de um perigo e que provoca reações físicas e hormonais  em nós, assim como reações de pavor e ansiedade, por exemplo. Depende de cada situação. O medo também pode ser definido como um sistema de defesa que está ligado a nosso instinto de sobrevivência, então, diante de uma situação de perigo contra a nossa vida esse sentimento virá de modo instantâneo.


cancaonova.com: O medo faz parte do nosso instinto de sobrevivência, mas existem também os medos que fomos adquirindo ao longo de nossa história, como os traumas por exemplo?


Manuela: Existe um ditado que diz “gato escaldado tem medo de água fria”. Certas situações podem nos causar medos que fazem um paralelo com essa situação. Uma criança que apanha muito, ao ver um cinto, por exemplo,  cria mecanismos de associação no qual o objeto se torna uma ameaça; este é um exemplo de medo adquirido. Outro exemplo é uma pessoa que, em público, passa por uma situação constrangedora e isso pode prejudicá-la todas as vezes em que ela for se apresentar diante dos demais, porque isso representa uma situação de medo de que ocorra aquilo novamente.


O medo, como falei, é um estado de alerta, ele me faz parar, analisar a situação e caminhar; no entanto, quando me impede de progredir em determinadas situações pode ser, sim, algo patológico. A partir do momento em que a pessoa não consegue dar o passo diante de uma situação, como no exemplo do falar em público citado acima, então é preciso se rever e procurar ajuda porque isso pode evoluir para uma fobia e mais adiante para uma síndrome do pânico.


cancaonova.com: Quando e como as pessoas podem identificar o que é um medo natural ou algo patológico?


Manuela: O medo precisa ser sempre de algo concreto. Se uma pessoa está com uma arma diante de mim, é claro que  isso vai gerar um temor porque estou correndo risco de vida, é o medo natural. Por outro lado, se não existe algo concreto, uma ação real de risco, eu preciso me rever e buscar no meu passado se não existe algo relacionado ao que sinto. Estas situações de sentimentos desse tipo não podem me paralisar, porque a questão patológica começa quando eu não tenho um motivo concreto para ter medo e segundo quando esta situação irreal começa a me paralisar, como quando tenho medo de falar em público, de me relacionar com as  outras pessoas. O medo é algo que eu consigo transpor; ele vira patológico quando não me permite superar certa situação sozinho; por isso é necessário buscar ajuda.


cancaonova.com: Nós temos visto um número muito grande de pessoas com síndrome do pânico. Como perceber se alguém está sofrendo dessa patologia?


Manuela: A síndrome do pânico é algo bem mais profundo e precisa imediatamente da busca de um profissional da área psíquica. Se você tem alguém em casa ou está vivendo uma situação em que não consegue sair de casa sozinho (e outras várias características próprias desta doença), você precisa buscar  tratamento psiquiátrico porque o profissional dessa área vai entrar com medicação para baixar a ansiedade – porque uma das reações do medo é a ansiedade. Na síndrome do pânico, algo muito recomendado é a terapia cognitiva comportamental, que vai trabalhar o comportamento da pessoa, ajudando-a a dar passos diante das situações.


Outra coisa é que, se você percebe que tem essa enfermidade, não deve ficar sozinho, porque chega um ponto em que você precisa de ajuda. O ideal é que se faça um tratamento de forma a atingir todas as áreas do indivíduo, ou seja, um médico que vai ver a parte fisiológica baixando a ansiedade, trabalhando e regulando os hormônios, e um que veja a questão psicológica para ajudar no comportamento. E, se você puder, um acompanhamento espiritual também ajudará com pessoas que rezem por você uma vez por semana, porque daí são atingidas todas as áreas do ser humano, pois um tratamento só não resolve. É preciso ter muita paciência também, porque às vezes a pessoa começa o tratamento num dia e já pensa que não está resolvendo;  nesses casos é a perseverança, a continuidade que vai mostrar os resultados.

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