Nicole Melhado
Da Redação CN
A jovem Mariana Guimarães completou o ensino fundamental e médio numa instituição de ensino católica, o que, para ela, foi fundamental na construção de sua formação humana e social. “A educação que recebi lá mudou a minha vida. Todos os valores que aprendia em casa eram vistos na prática com os professores e colegas. Minha formação católica foi um diferencial na minha vida”, destaca Mariana.
O nome de uma universidade católica fez a jovem pensar que lá poderia ter a mesma qualidade de ensino e reafirmação de seus valores onde teoricamente seria a última formação, mas para Mariana, suas expectativas não foram correspondidas.
“Quando entramos numa faculdade católica acreditamos que ela fará jus ao nome. Mas minhas expectativas foram frustradas. Se eu não tivesse me inserido numa pastoral, se quer me daria conta que estudava numa faculdade católica”, conta.
Segundo Mariana, na sala de aula não se via nenhum referencial católico e, por vezes, ela se sentiu até mesmo ferida em discussões com colegas e pela forma como os professores conduziam essas discussões. “Quando havia alguma discussão em relação à Igreja, os próprios professores criticavam ou se omitiam. O que nos era passado é que religião não faria diferença em nossa vida. Quando entramos numa universidade, esperamos que ela corresponda com aquilo que ela se intitula”, ressalta a recém graduada em Direito.
Para a jovem católica, os professores deveriam entender que muitos alunos chegam na universidade com essa expectativa e que eles esperam ao menos respeito aos valores e à religião que professam. “Eles deveriam tomar cuidado para preservar o título da instituição. No mínimo os valores e os alunos católicos deveriam ser respeitados. A universidade deveria ser coerente com aquilo que ela ostenta”, enfatiza.
O Arcebispo de São Paulo, Cardeal Odilo Pedro Scherer (primeira foto), reconhece que as instituições católicas, especialmente as de ensino superior, estão perdendo sua característica cristã devido à inserção de linhas de pensamento relativistas.
“É preciso um esforço para que isso seja superado. Nossas universidades e faculdades católicas precisam manter sua identidade. Os estudantes buscam essa instituições por isso e esperam delas determinados valores e referenciais. E é isso que insistimos junto às organizações de ensino superior e aos colégios católicos: que sejam boas, mas não deixem de ser católicas, que manifestem claramente sua identidade naquilo que propõe como ideais e referenciais de educação”, ressalta o cardeal.
Formação integral
Ex-reitor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), padre Jesus Hortal Sànchez (foto ao lado) destaca que o desenvolvimento humano é a primeira preocupação dentro da formação católica, em seguida, a formação da cidadania e, por fim, científica para a realização das atividades profissionais.
“Dentro do desenvolvimento da pessoa humana, existem valores transcendentes que dão sentido para a vida humana, dentro disso está o relacionamento com Deus”, ressalta o padre.
Para o ex-reitor e docente, as instituições católicas sempre primaram pela qualidade de ensino e, hoje, definitivamente são reconhecidas por isso, atraindo não apenas alunos católicos, mas aqueles que professam outras religiões e até mesmo ateus. “Isso mostra que a Igreja está em diálogo com a ciência e a cultura, construindo uma verdadeira união entre fé e ciência”, esclarece.
O reitor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Dirceu de Mello, destaca que os valores fundamentais transmitidos aos alunos são aqueles ligados à pessoa humana, direitos de cada cidadão: direito à vida, ao trabalho, à liberdade de expressão, de ação e do respeito mútuo dentro de uma sociedade republicada e democrática. “Não são apenas valores que transmitimos, mas que praticamos”, enfatiza.
A estudante Mariana Guimarães destaca que “faz parte também da formação, não ter apenas um pensamento relativista, onde só a formação humana basta, é preciso uma referencial, especialmente numa universidade que se intitula católica”.
Educação católica e as transformação históricas sociais
A Pontifícia Universidade Católica de São Paulo é atualmente uma das principais universidades do Brasil e teve grande papel na defesa dos direitos humanos durante a ditadura militar.
O advogado Pedro Henrique Fiorelli, escolheu para realizar sua graduação numa instituição católica principalmente por seu renome e por ser umas das melhores do país em excelência de ensino.
“O fato de ser católica também motivou minha escolha, mas depois constatei que muitos desses preceitos, em função da característica histórica da universidade, haviam sido deturpados um pouco”, conta Pedro Fiorelli.
Para o jovem advogado, os valores humanos foram transferidos na educação, mas os católicos propriamente não. “Todos os cursos tem em sua grade uma disciplina denominada Introdução ao Pensamento Teologístico, mas até o momento em que eu cursei ela era muito vaga, mas soube que ela foi restruturada”, afirma.
Para Pedro, essa "linha católica" se perdeu devido à história da instituição, mas a parte humanista foi conservada contrapondo ao prisma positivista da faculdade do Largo São Francisco, em São Paulo.
“O contexto histórico 'laiquizou' a universidade tendo em vista seu posicionamento na época da ditadura”, diz o advogado recordando que muitos pensadores socialistas perseguidos eram acolhidos pela universidade. Porém, segundo ele, a instituição manteve a título "pontifícia" em alguns aspectos. “Houve mesmo uma transformação humanista, mas que ela não fere os valores cristãos”, diz Pedro Fiorelli.
“As atividades acadêmicas são inteiramente desobrigadas de qualquer compromisso com a religião católica, isso está inserido no estatuto da universidade. Temos aqui alunos e professores ateus, judeus... Todos estão aqui. O valor fundamental prestigiado pela universidade é o valor católico, pois ela se criou sob a imposição, iniciativa de um cardeal. Mas todos tem liberdade, desde que no magistérios, por exemplo, os professores não agridam esse valores básicos que são prestigiados em nosso estatuto. Mas a liberdade de cátedra é franca”, ressalta o reitor da PUC-SP (à direita).
Dirceu de Mello afirma ainda que se um docente não respeitasse tais valores estariam não só desrespeitando o estatuto da própria instituição, mas “estaria contra a instituição que assegura a liberdade”.
O papel da educação católica no Brasil
O Arcebispo de São Paulo recorda que a Igreja Católica foi pioneira no campo da educação escolástica, antes que o Estado admitisse essa função.
Em todo o Brasil, destaca o cardeal, existem escolas e faculdades católicas que trazendo uma educação de forma integral de acordo com os princípios da antropologia cristã, com o objetivo de oferecer um ensino de bom nível para formar pessoas de forma integral.
“A Igreja possui um organismo que acompanha as instituições católicas, a Congregação para Educação Católica e, no Brasil, temos a Anec (Associação Nacional de Ensino Cristãos) que agrega não apenas instituições católicas, mas todas aquelas cristãs”, esclarece Dom Odilo.
Da Redação CN
A jovem Mariana Guimarães completou o ensino fundamental e médio numa instituição de ensino católica, o que, para ela, foi fundamental na construção de sua formação humana e social. “A educação que recebi lá mudou a minha vida. Todos os valores que aprendia em casa eram vistos na prática com os professores e colegas. Minha formação católica foi um diferencial na minha vida”, destaca Mariana.
O nome de uma universidade católica fez a jovem pensar que lá poderia ter a mesma qualidade de ensino e reafirmação de seus valores onde teoricamente seria a última formação, mas para Mariana, suas expectativas não foram correspondidas.
“Quando entramos numa faculdade católica acreditamos que ela fará jus ao nome. Mas minhas expectativas foram frustradas. Se eu não tivesse me inserido numa pastoral, se quer me daria conta que estudava numa faculdade católica”, conta.
Segundo Mariana, na sala de aula não se via nenhum referencial católico e, por vezes, ela se sentiu até mesmo ferida em discussões com colegas e pela forma como os professores conduziam essas discussões. “Quando havia alguma discussão em relação à Igreja, os próprios professores criticavam ou se omitiam. O que nos era passado é que religião não faria diferença em nossa vida. Quando entramos numa universidade, esperamos que ela corresponda com aquilo que ela se intitula”, ressalta a recém graduada em Direito.
Para a jovem católica, os professores deveriam entender que muitos alunos chegam na universidade com essa expectativa e que eles esperam ao menos respeito aos valores e à religião que professam. “Eles deveriam tomar cuidado para preservar o título da instituição. No mínimo os valores e os alunos católicos deveriam ser respeitados. A universidade deveria ser coerente com aquilo que ela ostenta”, enfatiza.
O Arcebispo de São Paulo, Cardeal Odilo Pedro Scherer (primeira foto), reconhece que as instituições católicas, especialmente as de ensino superior, estão perdendo sua característica cristã devido à inserção de linhas de pensamento relativistas.
“É preciso um esforço para que isso seja superado. Nossas universidades e faculdades católicas precisam manter sua identidade. Os estudantes buscam essa instituições por isso e esperam delas determinados valores e referenciais. E é isso que insistimos junto às organizações de ensino superior e aos colégios católicos: que sejam boas, mas não deixem de ser católicas, que manifestem claramente sua identidade naquilo que propõe como ideais e referenciais de educação”, ressalta o cardeal.
Formação integral
Ex-reitor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), padre Jesus Hortal Sànchez (foto ao lado) destaca que o desenvolvimento humano é a primeira preocupação dentro da formação católica, em seguida, a formação da cidadania e, por fim, científica para a realização das atividades profissionais.
“Dentro do desenvolvimento da pessoa humana, existem valores transcendentes que dão sentido para a vida humana, dentro disso está o relacionamento com Deus”, ressalta o padre.
Para o ex-reitor e docente, as instituições católicas sempre primaram pela qualidade de ensino e, hoje, definitivamente são reconhecidas por isso, atraindo não apenas alunos católicos, mas aqueles que professam outras religiões e até mesmo ateus. “Isso mostra que a Igreja está em diálogo com a ciência e a cultura, construindo uma verdadeira união entre fé e ciência”, esclarece.
O reitor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Dirceu de Mello, destaca que os valores fundamentais transmitidos aos alunos são aqueles ligados à pessoa humana, direitos de cada cidadão: direito à vida, ao trabalho, à liberdade de expressão, de ação e do respeito mútuo dentro de uma sociedade republicada e democrática. “Não são apenas valores que transmitimos, mas que praticamos”, enfatiza.
A estudante Mariana Guimarães destaca que “faz parte também da formação, não ter apenas um pensamento relativista, onde só a formação humana basta, é preciso uma referencial, especialmente numa universidade que se intitula católica”.
Educação católica e as transformação históricas sociais
A Pontifícia Universidade Católica de São Paulo é atualmente uma das principais universidades do Brasil e teve grande papel na defesa dos direitos humanos durante a ditadura militar.
O advogado Pedro Henrique Fiorelli, escolheu para realizar sua graduação numa instituição católica principalmente por seu renome e por ser umas das melhores do país em excelência de ensino.
“O fato de ser católica também motivou minha escolha, mas depois constatei que muitos desses preceitos, em função da característica histórica da universidade, haviam sido deturpados um pouco”, conta Pedro Fiorelli.
Para o jovem advogado, os valores humanos foram transferidos na educação, mas os católicos propriamente não. “Todos os cursos tem em sua grade uma disciplina denominada Introdução ao Pensamento Teologístico, mas até o momento em que eu cursei ela era muito vaga, mas soube que ela foi restruturada”, afirma.
Para Pedro, essa "linha católica" se perdeu devido à história da instituição, mas a parte humanista foi conservada contrapondo ao prisma positivista da faculdade do Largo São Francisco, em São Paulo.
“O contexto histórico 'laiquizou' a universidade tendo em vista seu posicionamento na época da ditadura”, diz o advogado recordando que muitos pensadores socialistas perseguidos eram acolhidos pela universidade. Porém, segundo ele, a instituição manteve a título "pontifícia" em alguns aspectos. “Houve mesmo uma transformação humanista, mas que ela não fere os valores cristãos”, diz Pedro Fiorelli.
“As atividades acadêmicas são inteiramente desobrigadas de qualquer compromisso com a religião católica, isso está inserido no estatuto da universidade. Temos aqui alunos e professores ateus, judeus... Todos estão aqui. O valor fundamental prestigiado pela universidade é o valor católico, pois ela se criou sob a imposição, iniciativa de um cardeal. Mas todos tem liberdade, desde que no magistérios, por exemplo, os professores não agridam esse valores básicos que são prestigiados em nosso estatuto. Mas a liberdade de cátedra é franca”, ressalta o reitor da PUC-SP (à direita).
Dirceu de Mello afirma ainda que se um docente não respeitasse tais valores estariam não só desrespeitando o estatuto da própria instituição, mas “estaria contra a instituição que assegura a liberdade”.
O papel da educação católica no Brasil
O Arcebispo de São Paulo recorda que a Igreja Católica foi pioneira no campo da educação escolástica, antes que o Estado admitisse essa função.
Em todo o Brasil, destaca o cardeal, existem escolas e faculdades católicas que trazendo uma educação de forma integral de acordo com os princípios da antropologia cristã, com o objetivo de oferecer um ensino de bom nível para formar pessoas de forma integral.
“A Igreja possui um organismo que acompanha as instituições católicas, a Congregação para Educação Católica e, no Brasil, temos a Anec (Associação Nacional de Ensino Cristãos) que agrega não apenas instituições católicas, mas todas aquelas cristãs”, esclarece Dom Odilo.
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