Homilia do Padre Fernando Cardoso - 05 de agosto de 2011

O Deuteronômio é o último dos cinco livros do Pentateuco. Num longo discurso atribuído a Moisés no próprio dia de sua morte, este recorda ao povo de Israel como Deus entrou em relação forte, íntima, indissolúvel com eles próprios. Deus escolheu seus antepassados no Egito, libertou-os de dura escravidão, conduziu-os pelo Mar Vermelho a pé enxuto e os fez peregrinar no deserto em demanda da terra que lhes daria e onde poderiam servi-Lo com toda a liberdade. Após enumerar os benefícios de Deus, Moisés acrescenta: “Não realizou isso porque sois o mais importante, o mais forte, o melhor dentre todos os povos da terra; ao contrário, sois o mais insignificante, o menos numeroso, mas Deus quis vincular-Se convosco e, antes de vós, com vossos pais, com laços de aliança, porque é um Deus misericordioso, bondoso e fiel. O que deseja o Senhor teu Deus? Nada mais a não ser que o ames de todo coração, com toda tua alma, com toda tua força, com todo teu entendimento”.

Esta Aliança entre Israel e Deus torna-se mais forte, vínculo absolutamente inquebrantável quando o Senhor Se torna presente e Se faz um de nós, através de Jesus Cristo encarnado, que viveu nossa aventura e nos deixou Seu único mandamento: o mandamento do amor.

No Antigo Testamento, os israelitas já se sentiam impelidos a amar a Deus pelos benefícios do Êxodo e da história passada. No Novo Testamento, em Jesus Cristo morto e ressuscitado - o grande benefício da salvação que nos trouxe – Deus libertou-nos do pecado e da morte, e abriu para nós, de par em par, as portas da Eternidade. Que devemos fazer por nossa vez? Nada mais a não ser retribuir amor com amor. É assim que Deus quer que nós nos relacionemos com Ele. Diante desta perícope reflitamos a respeito da intensidade do amor divino e a responsabilidade que contraímos para com Ele.

O Deuteronômio conserva um eco da pregação de Oséias no reino de Israel. Foi esse Profeta o primeiro a introduzir o amor nas relações entre Deus e Seu povo. Deus quer ser reverenciado, obedecido, mas, sobretudo, amado. Um texto como este deve ter causado enorme impressão em Israel e Judá, quando ouvido pela primeira vez. Até então, limitavam-se a adorar a Deus e a oferecer-Lhe um culto que consistia na imolação de animais e na oferta das primícias dos frutos colhidos na primavera e no outono. Mas agora, ei-los diante de uma página nova de estupenda revelação: Deus deseja sobretudo ser amado. À custa de muito repeti-la, por desgraça tornou-se inócua para nós. Seria preciso repeti-la pausadamente, esperando que cause em nós a mesma surpresa que causou no povo de Israel.

Comentários