Homilia do Padre Fernando Cardoso - 13 de agosto de 2011

É bastante sugestivo o último capítulo do Livro de Josué: após a divisão da terra entre as tribos, uma grande assembléia é convocada por este homem de Deus, antes de abandonar o cenário da História. Nela, é relembrada a longa série dos benefícios concedidos por Deus a seus antepassados, desde a libertação do Egito, durante toda a peregrinação pelo deserto até a posse de Canaã. A seguir, Josué pergunta se os israelitas estão dispostos a servir o Senhor Deus ou se preferem seguir outras divindades como seus antepassados haviam feito antes de entrar em Canaã. Toda a assembleia em uníssono responde a Josué: “Longe de nós trairmos o Deus de Israel, queremos servir o nosso Deus”. Mas, curiosamente, Josué se comporta de maneira à primeira vista paradoxal: “Vós não podeis servir o Deus de Israel, vós não tendes força e perseverança para obedecer às Suas prescrições e caminhar de acordo com Suas normas e estatutos”. “Não”’, responde o povo, “seguiremos o Senhor”. Josué, apesar de fazer as vezes do advogado do diabo - diríamos nós num linguajar moderno e jargão conhecido em nossa língua - era mais profundo do que aquela assembleia e seus componentes.

Recordo-me que, certa vez, visitava uma comunidade religiosa de beneditinas de clausura na cidade de Roma, junto à basílica de Santa Cecília. Após ter visitado o túmulo da santa mártir, perguntei à Madre Abadessa por que as vocações estão diminuindo na Igreja. Ela, sabiamente, me respondeu: “Padre, hoje as jovens têm medo de uma palavrinha, de um único advérbio, o sempre. Querem servir, estão dispostas a entrar durante um tempo de alegria, ou enquanto aquilo lhes convier, mas não têm, muitas delas, a capacidade de dizer um sempre para Deus e se manterem fiéis até a morte”.

Lendo este texto de Josué, lembrei-me dessa conversa e pergunto: você conhece a linguagem do sempre? a linguagem da perseverança? a linguagem daquele ou daquela que não volta atrás, ainda que tenha que suportar grandes obstáculos porque não quer trair a aliança com seu Deus? Você tem medo do sempre?

Na verdade, tem-se a impressão de que Igreja e mundo deixaram de falar a mesma linguagem, não se compreendendo mais um ao outro. Como notávamos ontem, o mundo acusa a Igreja de não ajustar os passos com a modernidade que - tem-se a impressão - caminha à velocidade da luz. Com outras palavras: acusa-a de ser demodée. Caberia uma pergunta: e se Deus Se comportasse como se comporta a modernidade? Se Ele mudasse Suas decisões como mudamos as nossas? Se Se cansasse porventura de alguém e resolvesse não mais amá-lo e aceitá-lo? Na verdade, não costumamos colocar essas premissas e nos assustam as possíveis conclusões...

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