Terrorismo em nome da religião é a pior violência, diz Papa

Nicole Melhado
Da Redação CN



Papa Bento XVI cumprimenta
 líderes de diversas religiões em Assis

Quando o Beato João Paulo II se encontrou pela primeira vez com os líderes religiosos, 25 anos atrás, o mundo sofria com a Guerra Fria. Para o Papa Bento XVI, embora a ameaça de uma grande guerra não é evidente hoje, o mundo está cheio de discórdias, e o terrorismo em nome de uma religião se mostra a forma mais cruel de violência.
“Sabemos que, frequentemente, o terrorismo tem uma motivação religiosa e que precisamente o carácter religioso dos ataques serve como justificação para esta crueldade monstruosa, que crê poder anular as regras do direito por causa do 'bem' pretendido. Aqui a religião não está ao serviço da paz, mas da justificação da violência”, disse o Papa, nesta quinta-feira, 27, em seu discurso na Jornada de Reflexão, Diálogo e Oração pela Paz e Justiça no Mundo, que reúne cerca de 300 representantes de diversas religiões, na cidade italiana de Assis.

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.: NA ÍNTEGRA: Discurso do Papa para Jornada pela Paz em Assis

.: Cobertura do Encontro do Papa com líderes religiosos em Assis.: Fotos do encontro em Assis no Flickr

Para Bento XVI a liberdade é um grande bem, mas o uso da liberdade sem orientação transformou-se em violência.

“A grande causa da danificação do inimigo justifica qualquer forma de crueldade. É posto de lado tudo aquilo que era comummente reconhecido e sancionado como limite à violência no direito internacional”, salientou

A crítica da religião, a partir do Iluminismo, alegou repetidamente que a religião seria causa de violência e assim fomentou a hostilidade contra as religiões, recordou o Pontífice. Para ele, o fato da religião motivar a violência é algo que, “enquanto pessoas religiosas, nos deve preocupar profundamente”.

“Devemos enfrentar estas questões, se quisermos contrastar de modo realista e credível o recurso à violência por motivos religiosos. Aqui situa-se uma tarefa fundamental do diálogo inter-religioso, uma tarefa que deve ser novamente sublinhada por este encontro”, enfatizou o Santo Padre.

O Papa lembrou que no passado, muitas pessoas também recorreram à violência em nome da fé cristã, algo que sem sombra de dúvida, contraria a verdadeira natureza desta fé, algo que a  “reconhecemo-lo, cheios de vergonha”.

“O Deus em quem nós, cristãos, acreditamos é o Criador e Pai de todos os homens, a partir do qual todas as pessoas são irmãos e irmãs entre si e constituem uma única família. A Cruz de Cristo é, para nós, o sinal daquele Deus que, no lugar da violência, coloca o sofrer com o outro e o amar com o outro. O seu nome é 'Deus do amor e da paz' (2 Cor 13,11). É tarefa de todos aqueles que possuem alguma responsabilidade pela fé cristã, purificar continuamente a religião dos cristãos a partir do seu centro interior, para que – apesar da fraqueza do homem – seja verdadeiramente instrumento da paz de Deus no mundo”, disse o Papa.

Segundo Bento XVI, ao se colocar acima de Deus, o homem se vê como um juiz superior justificando o uso da violência de acordo com seus interesses pessoais e uma vez que a violência se torna uma coisa normal, a paz fica destruída e, nesta falta de paz, o homem destrói-se a si mesmo.

“Mas o 'não' a Deus produziu crueldade e uma violência sem medida, que foi possível só porque o homem deixara de reconhecer qualquer norma e juiz superior, mas tomava por norma somente a si mesmo.


Drogas: outra grande ameaça a humanidade

O domínio das drogas tem destruído principalmente a juventude. Para o Santo Padre o uso é gerado por um anseio “desenfreado e desumano” na busca pela felicidade, que na verdade está em Deus. E esta ausência de Deus leva à decadência do homem e do humanismo.

Muitos assumem que Deus existe, mas acreditam que não precisam de alguma religião. Estas pessoas procuram a verdade, procuram o verdadeiro Deus, salientou o Papa, um Deus cuja imagem não raramente fica escondida nas religiões, devido ao modo como eventualmente são praticadas.

“Que os agnósticos não consigam encontrar a Deus depende também dos que creem, com a sua imagem diminuída ou mesmo deturpada de Deus. Assim, a sua luta interior e o seu interrogar-se constituem para os que creem também um apelo a purificarem a sua fé, para que Deus – o verdadeiro Deus – se torne acessível”, afirmou.

Trata-se de nos sentirmos juntos neste caminhar para a verdade, de nos comprometermos decisivamente pela dignidade do homem e de assumirmos juntos a causa da paz contra toda a espécie de violência que destrói o direito.

“Concluindo, queria assegura-vos de que a Igreja Católica não desistirá da luta contra a violência, do seu compromisso pela paz no mundo. Vivemos animados pelo desejo comum de ser 'peregrinos da verdade, peregrinos da paz'”, disse o Papa.

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