A crise moral: massageando o ego para aliviar a consciência

Ecclesia Una  /  Ian Farias

Vivemos numa sociedade marcada por um forte estereótipo de ser a grande portadora da verdade. Homens se julgam capazes de oferecer bem e mal, verdade e mentira. Consequências desastrosas estas. Tornou-se quase que ilimitável esta capacidade racional que se põe a disposição do mal, da libertinagem e do relativismo.
Hoje pela manhã, durante o meu estágio na área de Filosofia, deparei-me com uma temática muito interessante e atual; um tema, de fato, que intriga o homem contemporâneo fazendo-o repensar o seu conceito de vida e de liberdade: Eutanásia. Moralmente e religiosamente falando ela é inaceitável, uma vez que a vida constitui-se como dom singular e particular de cada pessoa. Violar este direito é ferir a própria liberdade do homem e a sua capacidade de escolha. Tantas escolhas… Somos a todo instante oportunizados (ou tentados) a fazer escolhas que possam privilegiar o nosso ego. Nem sempre queremos o correto, afinal, para quê conviver com a verdade dura se podemos viver com uma mentira suave? É aquele famoso ditado:massageando o ego. Portanto, eu sou dono do meu corpo; eu ajo como bem achar melhor; eu tenho liberdade de escolha… eu, eu eu… Jamais se pensa no outro. Até onde vai a minha liberdade, então? Por ser dotado de um livre arbítrio eu posso ferir a liberdade e o direito de alguém?
Não quero expor aqui nenhuma visão doutrinária especificamente neste artigo, mas simplesmente desejo sublinhar um pensamento enquanto homem e cristão; um pensamento muito particular.
Procurei – depois de explicar à sala a questão da eutanásia e expor por alto o pensamento da Igreja – fazer uma leitura humana e ética da vida. A vida constitui-se não somente como dom de Deus, mas como direito inalienável de todo ser humano. Fiz então uma comparação: Um determinado sujeito, insatisfeito com a vida, resolve suicidar-se. Você é chamado ao local para que possa fazer algo. Certamente, assim quero crer, você não iria levar uma corda para entregar ao "des-graçado" (no sentido pleno da palavra: que está sem a graça; que não possui a graça). O que você poderia fazer, em seu gritante lado humano, é tornar en-graçado aquele que está sem graça, isto é, mostrar o sentido mais belo e profundo da vida; um lado que todo homem só descobrirá quando re-descobrir (ou descobrir, se ainda não conhece) o seu próprio valor. (Perdoem-me os "joguetes" com as palavras, mas elas também me en-graçam).
Tentei mostrar aos jovens que a vida é passível de uma dinamicidade natural. Colocar-se em favor da eutanasia é estar a favor do aborto, do suicídio, dos crimes hediondos, do vazio. Pobre mundo vazio! Estúpido vazio no mundo! O único vazio que eu vejo entupir… vidas, ideias, expectativas, sonhos, fé. Tudo que sobeja lacuna termina em vazio. O homem sobejou uma lacuna para Deus e perdeu sua referência de fé e de religião; sobejou uma lacuna para si e perdeu o seu sentido existencial; sobejou uma lacuna no outro e perdeu o seu sentido de unidade e respeito mútuo.
"Mas nós somos donos do nosso corpo"; "nós somos livres pelo direito de decidir"; "nós temos livre arbítrio". Eu retruco perguntando: isso é um fato? É fato que temos domínio sobre nosso corpo? Então ótimo! Posso controlar a hora que quero adoecer, hora de cortar o cabelo, hora de envelhecer ou até mesmo ser imortal. Fatos não deixam espaço para possibilidades. Fatos não apresentam margem ou lacunas. Mas é fato – e muito triste! – que o homem já não se conheça mais.


Comentários