Catequese sobre O Papa

Padre Demétrio

"Seguir o Papa é a certeza de estarmos em comunhão plena com Cristo"


Neste dia 29 de junho a Igreja comemora o Dia do Papa por ocasião da Solenidade de São Pedro e São Paulo1. Para falar um pouco mais sobre a figura e o ministério do Sumo Pontífice o portal cancaonova.com entrevistou, por telefone, padre Demétrio Gomes2, sacerdote da Arquidiocese de Niterói (RJ), diretor espiritual do Seminário Arquidiocesano São José da mesma diocese e diretor do Instituto Filosófico e Teológico do referido seminário, onde leciona os cursos de Filosofia e de Teologia. O sacerdote também cursa o mestrado de Direito Canônico no Pontifício Instituto Superior em Direito Canônico do Rio de Janeiro, agregado à Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.

No áudio abaixo você confere, na íntegra, esta entrevista


cancaonova.com: Por que hoje é considerado o Dia do Papa?

Padre Demétrio: Hoje dia 29 de junho é considerado o Dia do Papa porque hoje nós celebramos o martírio destas duas colunas da Igreja Católica: São Pedro e São Paulo; e especialmente por ser o martírio de São Pedro nos focamos em seus sucessores, os Papas. Nós não sabemos a data exata desses martírios, mas se estima que tenha sido entre os anos 64 e 68, ou seja, na data do grande incêndio de Roma por Nero, sendo que no ano 68 foi o ano da morte deste imperador romano. No ano de 64 Nero, com a intenção de fundar uma nova cidade com o seu nome, incendiou a cidade romana e logo correu o boato de que teria sido o imperador que realizou esse incêndio, mas este [imperador] colocou a culpa nos cristãos e logo desencadeou-se uma grande perseguição contra estes. Uma lenda chamada  "Quo Vadis" diz que Pedro (na época ele morava em Roma) tenta fugir com medo e mais uma vez abandonar o seu Senhor. Narra essa lenda que, ao já  estar saindo da cidade de Roma, o apóstolo encontra novamente Nosso Senhor indo em direção a Roma e Lhe pergunta: "Senhor, aonde vais?" ("Quo vadis, Domine?") e o Senhor lhe responde: "Estou indo a Roma para ser outra vez crucificado" e Pedro logo percebe o recado que Nosso Senhor queria lhe dar, ou seja, que ele [Pedro] deveria sofrer o martírio pelo seu Senhor, o qual antes havia dado a vida por ele. Pedro então volta para Roma e é martirizado, pedindo para ser crucificado de cabeça para baixo porque se diz não ser digno de ser crucificado como o seu Senhor. E ali, em solo romano, Pedro derrama o seu sangue, que é semente para o crescimento da Igreja Católica.



cancaonova.com: Onde aparece na Sagrada Escritura o fundamento do poder de Pedro e dos seus sucessores, os Papas?

Padre Demétrio: Existem várias passagens da Escritura, no Novo Testamento, que narram o fundamento do poder de Pedro e seu primado, por exemplo: Mateus 16,16-19, onde aparece Jesus conferindo ao apóstolo a promessa do primado. Temos também Lucas 22, onde aparece a oração feita por Jesus a Pedro dizendo do seu papel com relação aos outros apóstolos. E o capítulo 21 do Evangelho de São João onde se confirma este primado de Pedro.

Podemos pegar a passagem do capítulo 16 de São Mateus, a partir do versículo 16, onde temos a confissão de Pedro: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. E logo depois Jesus faz uma revelação a Pedro seguida de uma promessa: “Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi carne e sangue quem te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu. Por isso, eu te digo: tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e as forças do Inferno não poderão vencê-la. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus”.

Podemos ver alguns elementos desta Palavra em que Jesus confere o poder ao apóstolo Pedro.


1º Vemos que só a Pedro Jesus chama de bem-aventurado: "Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi carne e sangue quem te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu". E logo depois muda o nome de Simão para Pedro, e na Sagrada Escritura a mudança de nome implica uma nova missão, uma alteração de missão. A palavra Pedro vem do Grego "Petros" que é uma forma masculinizada do feminino "Petra", que significa Rocha; em aramaico se diz "Kepha", Pedro é a Rocha, fundamento sólido sobre o qual Jesus vai fundar a Sua "Ecclesia", a Sua Igreja que vai se tornar o novo povo de Deus. A Igreja é de quem? De Pedro? Não, a Igreja é de Cristo, ela é fundamentada sobre a rocha que é Pedro, mas a Igreja é de Cristo, Ele é o fundador.

"Eu te darei as chaves do Reino dos Céus". Na Sagrada Escritura é preciso entender bem o contexto do termo "conferir as chaves". Trata-se de uma expressão rabínica que confere a Pedro toda responsabilidade sobre a casa de Deus aqui na terra. Jesus continua: "tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus”, ou seja, implica toda autoridade doutrinal e disciplinar de Pedro sobre a Igreja. E a promessa toma muito mais força quando Jesus diz explicitamente que todos os atos de Pedro vão ser confirmados no céu. Este poder também foi dado aos Apóstolos em conjunto, ao que chamamos de "Colégio Apostólico". No entanto, Pedro tem este poder sozinho, por ele só. Este poder passa para os seus sucessores. Assim como os Bispos são sucessores dos Apóstolos, o Papa é o sucessor de Pedro. A palavra Papa, que nós usamos para chamar o sucessor de Pedro, é originária do grego e significa "Pai", e esses sucessores do primeiro Bispo de Roma são os Vigários de Cristo, ou seja, aqueles que atuam em nome de Cristo. Santa Catarina de Sena no Séc. XIV chamava o Papa de "O doce Cristo na terra".





cancaonova.com: Seria então o Santo Padre um líder religioso como os demais líderes da humanidade?

Padre Demétrio: O Papa é certamente um líder religioso, mas não como os demais líderes, porque, como nós vemos nas Sagradas Escrituras o Papa não está à frente da Igreja por ele mesmo, mas por um poder conferido pelo próprio Deus encarnado. Jesus Cristo escolhe um homem com suas limitações, com debilidades naturais, como Pedro, um rude pescador, provavelmente sem muita formação humana, covarde, porque nega o seu Senhor nos momentos de maior dificuldade, e provavelmente nega o seu Senhor à beira do seu martírio em Roma. E mesmo com essas fragilidades humanas Deus o escolhe para mais uma vez se confirmar aquilo que São Paulo dizia:  "Deus escolhe os fracos para confundir os fortes". Por essa razão, o apóstolo Pedro não é um líder que está à frente da Igreja porque ele quer, porque houve uma votação democrática e votaram nele, mas porque é o próprio Deus que o escolhe para colocá-lo à frente de Sua Igreja e depois dele [Pedro] os seus sucessores, que são o fundamento visível da unidade da Igreja Católica. Seguir o Sumo Pontífice é a certeza de estar em comunhão plena com Cristo, por isso se diz que o Papa é fundamento visível da unidade.

Confira uma catequese em forma de slide sobre a pessoa e a figura do Papa



cancaonova.com: Muitos criticam o Santo Padre dizendo que a Igreja precisaria rever alguns pontos para adaptar-se ao mundo moderno, aceitando a ordenação de mulheres, o casamento homossexual, a liberação do aborto, entre outros. Por que o Papa não pode mudar essas posturas?

Padre Demétrio: Essa é uma crítica comum não só dos tempos de hoje, mas de todos os tempos, ou seja, que o Papa precisa se abrir, que a Igreja é muito fechada, que a Igreja tem posturas medievais, que precisa se adaptar ao mundo moderno. Mas quem pensa assim não tem ideia de que o Papa não é o dono da Igreja, o Papa é o servidor de algo muito maior que o Senhor lhe confiou. O Papa é aquele que recebeu o depósito da fé ("Depositum fidei"), um conjunto de verdades que ele deve guardar e proteger. Ele é um servo da verdade, como o Papa Bento XVI escolheu como o seu lema: "Cooperadores da verdade", o Papa é um colaborador da verdade, ele guarda um tesouro que não é dele,  que lhe foi confiado pela tradição que passou de séculos. Portanto, o Santo Padre não pode mudar esta verdade para adaptá-la ao mundo, como se isso fosse fazer com que ela [verdade] fosse bem quista pelos homens. Contudo, a verdade é única, ela não muda com o tempo. Por essa razão, o Sumo Pontífice não pode mudar a seu bel-prazer a verdade que lhe foi confiada por Cristo, ele não tem este poder, ele deve custodiar esta verdade ainda que venha a lhe custar a própria vida, como aconteceu com muitos Papas no início do Cristianismo.


cancaonova.com: Por que as pessoas não entendem isso?

Padre Demétrio: Isso é difícil de entender pelos homens de hoje, porque estes já não possuem fé. Para o homem moderno que não tem fé jamais lhe será possível entender a missão do Sumo Pontífice. Quem não tem fé não vai entender este poder que lhe foi conferido pelo próprio Cristo. Quem não tem fé não vai entender que o Papa tem assistência do Espírito Santo para proclamar, sem erro, aquilo que o Senhor lhe confiou como verdade. Portanto, um requisito indispensável para entender e amar a figura do Santo Padre é que nós tenhamos fé; quando o homem perde a fé ele perde a credibilidade que ele deveria dar à figura do Romano Pontífice, o Santo Padre.


cancaonova.com: O que poderíamos fazer de concreto para manifestar a veneração e a comunhão com o Santo Padre?

Padre Demétrio: Penso que um grande presente que poderíamos dar ao Santo Padre no dia de hoje e todos os dias seriam as nossas orações; todos os dias lembrar de rezar pelo Papa "o doce Cristo na terra". Oferecer por ele os nossos sacrifícios; na Santa Missa rezar por ele, também nas nossas orações pessoais lembrar dele e das suas intenções. Assim como os primeiros cristãos rezavam por Pedro quando ele estava no cárcere, também nós devemos acompanhá-lo [atual Papa] dobrando os nossos joelhos e rogando a Deus por tudo o que sofre hoje o Papa Bento XVI, as críticas dos homens, daqueles que não entendem a verdade de Cristo. Por outro lado, também devemos conhecer aquilo que o Santo Padre fala, porque ele é a garantia de estarmos em comunhão plena com Cristo. Portanto, conhecer os documentos que o Papa escreve, lê-los, estudá-los, ler e escutar as homilias do Santo Padre, ouvir os seus discursos e catequeses, acompanhá-lo pelo menos espiritualmente nas suas viagens apostólicas. Estar sempre em comunhão com o Papa é a garantia de estarmos em comunhão com Cristo; nós temos de também ajudar outros católicos para que caminhem seguindo os passos de Pedro aqui na terra, porque esta é a garantia de estarmos seguindo Cristo aqui na terra.

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1Por questões pastorais, para uma participação mais expressiva do povo de Deus, a Igreja do Brasil, de acordo com as normas litúrgicas, transfere a Solenidade do martírio de São Pedro e São Paulo para o domingo

2Padre Demétrio Gomes também assessor do Setor Juventude da Arquidiocese de Niterói, e diretor espiritual do Grupo de Casais Famílias em Cristo. Membro da Sociedade Internacional Tomás de Aquino (SITA – Brasil), além de administrar o portal presbiteros.com, um site de grande referência na formação do clero católico.

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