"Com os pobres, eu tenho aprendido a valorizar as coisas simples da vida"

Padre Sóstenes

"Com os pobres, eu tenho aprendido a valorizar as coisas simples da vida"

De 9 a 11 de junho, sacerdotes do mundo inteiro vão se encontrar com o Papa Bento XVI no Vaticano para, juntos, celebrarem o encerramento do Ano Sacerdotal. Por ocasião deste grande evento, o Portal Canção Nova traz para você a série especial “Sacerdote Amigo”. São cinco entrevistas mostrando a pessoa do sacerdote como alguém retirado do meio do povo para ser a ponte de amizade entre Deus e os homens.

Entrevistamos cinco sacerdotes e, a cada dia, um deles irá partilhar sobre sua vocação ao sacerdócio, a vivência de seu ministério, as alegrias e os desafios desse chamado; enfim, a experiência pessoal diante deste ministério que faz deles – segundo as palavras de São João Maria Vianney (o Cura d'Ars) – “um dos dons mais preciosos da misericórdia divina” para a humanidade.

Hoje você confere a quarta entrevista: “Sacerdote, o amigo dos que sofrem” com o padre Sóstenes da Comunidade Canção Nova.

No áudio abaixo você confere esta entrevista na íntegra



cancaonova.com: Padre Sóstenes, como Deus conquistou o seu coração para o sacerdócio?

Padre Sóstenes: Descobri que Deus tinha um presente para mim chamado "santidade". E santidade nada mais é do que ser feliz. Como todo jovem, eu também queria ser feliz, mas procurava a felicidade onde ela não estava. E foi na Igreja, experimentando a força dos sacramentos, que eu descobri essa felicidade. Comecei a servir a Deus num grupo de oração para jovens, ficava no ministério da acolhida, abraçando as pessoas que chegavam. No meu coração havia esse desejo de ajudar o próximo; praticar o bem sempre foi algo muito forte dentro de mim. Quando eu sabia que havia alguém sofrendo em nosso meio, eu logo pensava numa forma de ajudar aquela pessoa, fosse através de uma oração, de uma palavra amiga, de uma cesta básica e até mesmo financeiramente.

Para mim, este desejo de ajudar foi um forte sinal para eu perceber que Deus me chamava “a algo mais”. Eu não me sentia bem em fazer o pouco... Queria fazer tudo o que estivesse ao meu alcance! Descobri, com o tempo, que este sentimento se chamava "compaixão", ou seja, sofrer junto com aquela pessoa. Durante o meu caminho vocacional à Canção Nova, eu trabalhei como voluntário num asilo para idosos em minha cidade. Nesse local eu fiz uma experiência muito forte de cuidar daqueles que sofrem. Ali eu pude cuidar do Jesus “mais velho”, amparando aqueles idosos, muitas vezes, abandonados pelos familiares, vítimas de maus-tratos, etc.

Também nesse lugar, às terças-feiras, acontecia o “sopão” para os pobres. A casa ficava cheia de gente: pais, mães, crianças, uma experiência maravilhosa! Também levamos a evangelização para essas famílias carentes. E foi no meio disso tudo que fui perguntando a Deus o que Ele queria de mim. A resposta veio por meio do Salmo 115,3-4: “Mas que poderei retribuir ao Senhor por tudo o que Ele tem me dado? Erguerei o cálice da salvação, invocando o nome do Senhor”. A partir dessa Palavra, percebi claramente o Senhor me dizendo: “Eu te quero sacerdote!”

cancaonova.com: Tendo este contato com os mais excluídos de nossa sociedade, o senhor imaginava que o seu ministério sacerdotal estaria tão voltado para eles?

Padre Sóstenes: Eu não imaginava. Eu achava que seria tipo um “free lancer”. Algo só por um tempo. O meu trabalho naquele asilo, na minha concepção, era algo provisório por causa do meu caminho vocacional. Não imaginava que Deus iria me conduzir por este caminho. Dias atrás é que tomei consciência da minha história. Percebi que Jesus foi me conduzindo a ter contato com essas pessoas mais carentes. Os sinais de Deus já se faziam presentes em minha história, nesse processo de cuidar daqueles que sofrem. Foi trabalhando na Rede Social da Canção Nova e lendo os escritos de nosso fundador, monsenhor Jonas Abib, principalmente aquele em que ele diz que a Canção Nova é a “Casa da Misericórdia”, onde são acolhidos os pobres “mais pobres”, que eu fui me encontrando no meio disso tudo.



cancaonova.com: Padre, no que o senhor contribui como sacerdote na vida dessas pessoas excluídas e no que essas pessoas carentes contribuem em seu ministério sacerdotal?

Padre Sóstenes: Posso afirmar que muito mais que a Filosofia e a Teologia, cuidar dos que sofrem é uma grande faculdade. Meus “professores” são essas crianças, mães e pais pobres que vêm até o Bom Samaritano. Um dia, um desses pobres pediu um saquinho de suco em pó aos vizinhos aqui da redondeza e disse para uma de nossas funcionárias: “Faz suco para nós!”. Ou seja, aquela pessoa não tinha nada e mesmo assim partilhou com os outros pobres o suco que havia ganhado. Quando eles dizem para nós que, com medo de morrer durante a madrugada, um fica acordado enquanto os outros dormem, a gente aprende muito com isso. Aprende-se a valorizar a comida, pois é difícil ver alguém desperdiçar o almoço quando não se tomou o café da manhã! Eu tenho aprendido a valorizar as coisas simples da vida, a ser mais misericordioso com os que sofrem. Esta é uma grande escola de vida, onde eu aprendo a ficar “no último lugar”, pois é aí que eu encontro a Jesus e não nos “pódios” da vida.



cancaonova.com: “Padre Sóstenes, o amigo dos que sofrem”. O que significa ser amigo dessas pessoas que muitas vezes experimentam a inimizade por parte da sociedade? E peço também a sua bênção aos internautas na conclusão dessa nossa entrevista.

Padre Sóstenes: Para mim, é uma grande responsabilidade. Se um dia eu vier a perder a compaixão por esses que sofrem, eu perderei tudo! Pois a compaixão é a alma do meu sacerdócio. Se o que eu faço para o meu próximo não é por amor, então, não tem sentido! São Bernardo certa vez disse: "Não ouse me dizer que és um cano, mas sim que és uma concha! Porque o cano é aquilo que deixa passar a água sem reter uma gota sequer. Porém, a concha, oferece daquilo que transborda de si". Eu quero ser essa "concha": experimentando ser amado concretamente por Deus e, assim, transbordar este amor para as pessoas, amando-as de verdade.

Peço a Deus que esta bênção suscite mais vocações ao sacerdócio e faça com que as pessoas que estão acompanhando esta entrevista se disponham a ajudar àqueles mais necessitados. Que esta bênção recaia sobre todos nós, concedendo-nos a graça da perseverança, da fidelidade e do amor. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.

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