Os jovens e o sacerdote

Padre Roger Luís

"Eu acredito que é possível aos jovens experimentarem este algo novo que Jesus oferece a eles."

De 9 a 11 de junho, sacerdotes do mundo inteiro vão se encontrar com o Papa Bento XVI no Vaticano para, juntos, celebrarem o encerramento do Ano Sacerdotal. Por ocasião deste grande evento, o Portal Canção Nova traz para você a série especial “Sacerdote Amigo”. São cinco entrevistas mostrando a pessoa do sacerdote como alguém retirado do meio do povo para ser a ponte de amizade entre Deus e os homens.

Entrevistamos cinco sacerdotes e, a cada dia, um deles irá partilhar sobre sua vocação ao sacerdócio, a vivência de seu ministério, as alegrias e os desafios desse chamado; enfim, a experiência pessoal diante deste ministério que faz deles – segundo as palavras de São João Maria Vianney (o Cura d'Ars) – “um dos dons mais preciosos da misericórdia divina” para a humanidade.

Hoje, você confere a segunda entrevista: “Sacerdote, o amigo dos jovens” com o padre Roger Luís da Comunidade Canção Nova.

No áudio abaixo você confere na íntegra esta entrevista



cancaonova.com: Padre Roger, qual a relação da sua vocação sacerdotal com a juventude?

Padre Roger Luís: Eu creio que esta relação nasceu a partir do meu encontro pessoal com Jesus no ano de 1995. Este encontro, na verdade, aconteceu num lugar “nada apropriado”: foi durante um baile funk na cidade do Rio de Janeiro. Na época, eu curtia esse tipo de baile, era usuário de drogas, estava desviado da Igreja, numa vida bem desregrada. E foi exatamente nesse meio que Jesus me fez a seguinte afirmação [em meu coração]: “Você só me procura quando você precisa!”. Por três vezes Ele me disse isso! A partir dessa afirmação, o meu coração se abriu à vida religiosa. Voltei para a casa dos meus pais (na época eu não morava com eles) e comecei a frequentar um grupo de oração da Renovação Carismática Católica [RCC]. Participando desse grupo eu fui crescendo numa vida de intimidade com Deus. Creio que foi a partir dessa experiência do meu encontro pessoal com Jesus que se deu essa minha empatia com a juventude. Os jovens são atraídos pelo meu ministério, porque, um dia, durante um baile funk, eu também fui atraído por este Jesus “jovem”, que transformou o meu coração. A partir da minha experiência, o Senhor tem me concedido a graça de poder ajudar os jovens, amando-os, e como a Canção Nova pertence à família salesiana, nós temos o exemplo de Dom Bosco, que dizia: “Basta que sejam jovens para que eu os ame”. É isso que eu vivo: eu amo os jovens! Eu acredito que é possível a eles [jovens] experimentarem este algo novo que Jesus oferece a eles.


cancaonova.com: Naquilo que os jovens vivem hoje, qual o maior desafio que o senhor tem encontrado para evangelizá-los?

Padre Roger Luís: Meu maior desafio tem sido libertá-los deste materialismo do mundo. Este materialismo tem distanciado, especialmente os jovens, da experiência com Deus. Hoje se “materializa” tudo. As pessoas só têm os olhos voltados para essa vida, para uma supervalorização do próprio corpo (é claro que o corpo é templo do Espírito Santo e precisa ser cuidado, mas não da forma como o mundo tem mostrado). Há uma busca desenfreada pelo prazer hedonista, fazendo com que o ser humano viva nesta realidade do pecado. Existe também a questão da criminalidade, das drogas que, infelizmente, o mundo tem vivido.

No entanto, eu tenho feito uma experiência muito rica que tem enchido o meu coração de esperança em relação aos jovens. Recentemente, preguei num grupo de jovens a respeito da radicalidade na vivência do Evangelho. E a resposta deles foi imediata: assim como eu, que buscava nas drogas, no sexo desenfreado e em tantas outras coisas a alegria, a qual só encontrei em Jesus Cristo, aqueles jovens “caíram por terra” diante da força do Kerigma. Aqueles jovens foram “revolucionados” pela força do amor de Jesus.

Portanto, ao mesmo tempo em que é um desafio libertar o jovem desse relativismo da fé, tem sido muito gratificante ver a ação do Espírito Santo transformando a vida de tantos jovens em nosso meio.


cancaonova.com: Muitas vezes, o jovem não encontra uma referência até mesmo dentro de sua própria casa. No meio de todos esses conflitos enfrentados por ele, onde entra o papel do sacerdote na vida dele?

Padre Roger Luís: O padre entra exatamente naquilo que é o tema deste nosso podcast: “Sacerdote, o amigo dos jovens”. Ele entra nessa relação que precisa existir entre o padre e a juventude. E é necessário que o sacerdote seja o que ele é. Eu não preciso me vestir igual aos jovens (de boné, calça rasgada, etc.) para estar no meio deles! Eu atendo os meus jovens de clergyman. Afinal, eles querem me ver padre, eles me amam como padre que eu sou. Essa mentalidade de que a veste sacerdotal “distancia” o padre do jovem é uma mentira! Posso afirmar que a minha veste sacerdotal não me distancia deles, pelo contrário, ela os atrai.

E é a partir dessa atração que a gente consegue fazer um belo caminho de amizade com a juventude. Desses jovens que eu acompanho aqui em nossa diocese, 100% têm se confessado comigo. E eu estou ali, junto a eles, como um amigo que acolhe seus desabafos e dores. Por mais que eles tenham caído, esses jovens sabem que eu acredito neles, invisto neles, não desisto de suas vidas. A missão do padre, como amigo dos jovens, é não desistir deles, lutar por eles, acreditar neles. E isso não é fácil, quando um jovem (dentre esses que eu acompanho) cai, isso me dói muito! Mas eu vou atrás dele, luto por ele, e repito sempre: “Meu filho, saiba que eu continuo acreditando em você!”.



cancaonova.com: Padre Roger, conte-nos um testemunho dentro do seu ministério em que algum desses jovens foi beneficiado por esta amizade com o senhor.

Padre Roger Luis: Eu tenho inúmeros desses exemplos. Tenho o testemunho de um jovem que foi preso e, na época, eu era seminarista e fazia um trabalho de evangelização dentro dos presídios. Eu enviei para ele uma carta que surtiu um efeito maravilhoso na vida dele. A partir daquela carta, a resposta daquele jovem a Deus fez com que eu o acompanhasse durante seis anos. A minha amizade com que ele, ainda como seminarista e depois como diácono, foi muito positiva para a recuperação dele. No ano de 2006, numa dessas visitas à prisão (e sempre que eu o visitava levava um padre para atendê-lo em confissão e também a sagrada comunhão para ele), o Senhor deu-nos a seguinte Palavra: “Eu revogo toda sentença que foi decretada contra ti” (Sofonias 3,15).

Aquele jovem havia sido condenado a 23 anos de prisão. Eu lhe disse que o meu presente de ordenação sacerdotal seria a presença dele durante a celebração. Mas ele só poderia sair após mais seis anos de cumprimento da pena. Seria um milagre ele poder ir à minha ordenação. Perguntei se ele acreditava nesse milagre comigo e, após dois meses, a sua sentença foi revogada! Ele foi o presente que Deus me concedeu durante a minha ordenação sacerdotal. Hoje esse jovem está bem sucedido, trabalhando, fez faculdade, está noivo e, no próximo ano, eu vou celebrar o casamento dele. A vida dele foi totalmente restaurada!

Comentários