Josy Braga "O ambiente familiar pode contribuir ou destruir a formação da pessoa" |
Nesta semana o tema da entrevista do portal cancaonova.com é o seguinte: "Educação e limites na formação da pessoa humana". Para falar sobre o assunto convidamos a psicóloga Josy Braga, que trabalha no Instituto Canção Nova, escola que integra a Rede de Desenvolvimento Social Canção Nova e que beneficia cerca de mil alunos desde o Ensino Infantil até o Ensino Médio.
No áudio abaixo você confere, na íntegra, este depoimento.
cancaonova.com: Em que etapa a criança já deve aprender o que é certo e o que é errado?
Josy: Na verdade, nós não discriminamos uma etapa para dizer que chegou a hora de a criança aprender o certo ou o errado. O que a gente precisa compreender é que todo momento de ensinamento, em cada experiência vivida pela criança, é o momento de ensinar o que é o certo e o que é errado. Então desde os primeiros ensinamentos que a família passa ao seu filho, mesmo naquele momento inicial de dizer "Não mexa nisto! Não mexa naquilo!" já é momento de dizer para o filho o que é certo e errado. O conceito de certo e errado não está enquadrado numa faixa de idade, mas na própria dinâmica da formação que é vivida com cada criança.
cancaonova.com: De que forma a família forma ou deforma a personalidade de uma criança?
Josy: É preciso entender primeiro que valores esta família quer repassar para os seus filhos. Que família é esta? Como está a estrutura desta família? A partir da estrutura da família ela já concede, por excelência, um momento de formação da pessoa humana. No entanto, se esta criança está inserida num ambiente familiar que não dá um suporte necessário para sua formação, aí sim, o próprio ambiente familiar pode contribuir para o processo de deformação. Então, a base estrutural da formação da criança está consolidada na própria família. Não diria muito a palavra "deformar", eu diria que a criança teria mais dificuldades de se estabelecer e se conduzir no mundo, porque nós somos a base daquilo que recebemos. E à medida que conseguimos equilibrar e fazer uma identificação daquilo que é certo ou errado, com certeza as nossas atitudes, a nossa nova forma de aprender e nos manifestar no mundo vão estar mais centralizadas.
cancaonova.com: Punir é a melhor forma de impor limites? Quando a punição se torna necessária?
Josy: É preciso entender bem o que significa punir, porque a própria palavra "punir" é pesada, pois traz em si o significado do castigo, do bater, do agredir, ou seja, da violência. Neste contexto precisamos entender onde entra, na educação de uma criança, o verdadeiro sentido do punir, porque se meu conceito de punir for o da agressão, então, não existirá formação. Agora, se a minha ideia de punir é, por exemplo, privar a criança ou o adolescente de certa coisa como forma de ele analisar um comportamento inadequado, então o punir é válido e necessário. À medida que eu vou adquirindo a noção de limites eu vou desenvolvendo a relação de respeito, porque eu só respeito o outro à medida que eu compreendo o limite; mas se eu não respeito o limite eu avanço a barreira do respeito para com o outro.
'Quando adquiro a noção de limite eu desenvolvo a relação de respeito'
Foto: wesley Almeida/CN
cancaonova.com: De que forma a falta deste limite na infância e adolescência pode trazer danos a uma pessoa na fase adulta?
Josy: O tentar ultrapassar limites, buscar novas atitudes, transgredir algumas coisas é algo natural no ser humano, e ainda mais numa criança que está descobrindo novos espaços e até onde ela pode ir. Faz parte do processo de desenvolvimento este avançar e explorar novos limites; o que a criança precisa entender é que dentro deste processo natural de descobrimento ela precisa de pessoas - porque vivemos por meio de relações - que no seu caminho digam "Até aqui você pode ir". Lamentavelmente nós vivemos numa sociedade que fica dizendo o tempo todo para nós adultos, crianças e adolescentes que não há regras, que não há limites, que a gente pode tudo. Dessa forma, muitas famílias, com medo de dizer "não" a algumas coisas, acabam caindo no erro da permissividade, com a ideia antiga de não frustrar o filho. No entanto, todos nós precisamos nos frustrar porque somente assim vamos aprender a nos adequar ao mundo.
O que a fase adulta vai exigir de nós? Compromisso. Então, se a fase adulta vai exigir que tenhamos compromisso, como uma pessoa será comprometida se ela não tiver referência de limites? Se essa pessoa não foi estruturada num meio em que ela tenha consciência de maturidade, se ela não foi "podada" - como diz aquela frase bíblica "Tudo me é permitido, mas nem tudo me convém" - se não vive esta sequência de limites, a sociedade vai fechar as portas, porque esta [sociedade] vai exigir um ser que se adeque às realidades. Cada posicionamento, cada colocação, cada local que eu ocupe ou queira ocupar, vai exigir que eu me adeque e que eu seja referência no que eu posso ou não posso, porque eu vou conviver com pessoas, eu não vou viver num mundo está voltado para mim. Vou conviver num mundo que exige doação e, de acordo com essa ideia, preciso saber dos meus limites e se eu não tive todo esse processo para chegar a essa compreensão não vou ter espaço neste mundo.
O que a fase adulta vai exigir de nós? Compromisso. Então, se a fase adulta vai exigir que tenhamos compromisso, como uma pessoa será comprometida se ela não tiver referência de limites? Se essa pessoa não foi estruturada num meio em que ela tenha consciência de maturidade, se ela não foi "podada" - como diz aquela frase bíblica "Tudo me é permitido, mas nem tudo me convém" - se não vive esta sequência de limites, a sociedade vai fechar as portas, porque esta [sociedade] vai exigir um ser que se adeque às realidades. Cada posicionamento, cada colocação, cada local que eu ocupe ou queira ocupar, vai exigir que eu me adeque e que eu seja referência no que eu posso ou não posso, porque eu vou conviver com pessoas, eu não vou viver num mundo está voltado para mim. Vou conviver num mundo que exige doação e, de acordo com essa ideia, preciso saber dos meus limites e se eu não tive todo esse processo para chegar a essa compreensão não vou ter espaço neste mundo.
cancaonova.com: Nós perguntamos sobre as consequências para uma pessoa que teve uma educação sem limites. E quais as consequências para uma pessoa que teve uma educação muito rígida?
Josy: A rigidez pode tirar da pessoa humana, dentre outras coisas, a potencialidade para a criatividade. Às vezes, a pessoa foi tão reprimida que ela acaba deixando de lado alguns processos criativos que podem externar o melhor dela. Existem pessoas com muitos medos, muito tímidas, que não conseguem expor nem a própria voz, não conseguem se apresentar diante de um público ou até mesmo nas relações de trabalho. Nós percebemos que há pessoas com sérios problemas emocionais, muito fechadas, com conflitos interiores, as quais, muitas vezes, nem sequer sabem dizer dos seus sentimentos ou de suas ideias. Muitas dessas questões estão ligadas a uma formação muito rígida. No entanto, cada caso é um caso a ser analisado, não é uma verdade soberana, mas esses podem ser indícios de uma educação muito cheia de regras, sem propósitos, porque quando a família conduz os filhos ela precisa deixar claro os objetivos, para que estes tenham noção do porquê algo é proibido ou permitido.
cancaonova.com: Qual a melhor forma de educar uma criança para que ela venha a se tornar um bom adulto?
Josy: Eu acredito muito na pedagogia do afeto, naquela ideia de que quanto mais próximo eu estiver daquela criança, daquele adolescente, tanto mais será uma boa oportunidade para formá-lo e educá-lo. Mas, infelizmente, nós estamos vendo cada vez mais pais distantes dos filhos, com aquela ideia de que educar e formar é colocar na melhor escola e o papel de pai e mãe está cumprido. A grande dica é: construa a afetividade, esteja próximo, acompanhe, escute, fale, dialogue, isso não é nada novo, é a pedagogia de Jesus Cristo.
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