O verão está aí batendo às portas. E com isso as academias de Body Designer (modelação do corpo), os salões de estética e os consultórios dos profissionais de cirurgia plástica também escutam o bater à porta de milhões de pessoas correndo atrás do corpo ideal. Assuntos como dietas, alimentação saudável e exercícios físicos para perder os quilos adquiridos no inverno fazem parte das conversas do cotidiano.
O debate entre os limites do cuidado com o corpo, no entanto, são cada vez mais acirrados na sociedade. Segundo o psicólogo Élisson Santos, “a linha entre o saudável e o doente é muito tênue” quando se fala em deixar o corpo em forma.
No Brasil, especialistas da área médica e da estética se dividem com relação à busca do corpo ideal e das intervenções que se pode fazer para melhorá-lo. Um exemplo disto são as cirurgias plásticas cada vez mais procuradas por jovens adolescentes que não estão satisfeitos com o corpo. A procura é tão grande que a Associação Brasileira de Cirurgia Plástica lançou recentemente um guia que impõe limites aos profissionais de cirurgia plástica em intervenções estéticas.
“No Brasil, mas de 50% das cirurgias plásticas são de cunho estético, e muitas destas cirurgias estão sendo feitas em adolescentes, ou seja, o corpo nem se desenvolveu ainda e já está sendo transformado. Isto não é normal, não é justo e impõe sofrimentos”, diz Élisson Santos, psicólogo.
“A virtude da temperança manda evitar toda espécie de excesso” (Catecismos da Igreja Católica).
Segundo o psicólogo, é importante as pessoas se perguntarem o porquê desta procura compulsiva por um corpo perfeito. “É preciso saber dosar as coisas, pois as modificações corporais que hoje são moda, daqui a alguns anos caem de moda. Existem alterações corporais que são irreversíveis ou que deixam sequelas para o resto da vida” conclui Élisson. Por outro lado, é preciso entender que uma vida sedentária (sem atividades físicas) também causa danos à pessoa. O sedentarismo deriva facilmente em doenças cardiovasculares, diabetes e obesidade, por isso especialistas defendem a ideia de que ele também mata.
O sedentarismo também mata. |
O Destrave perguntou para o psicólogo Élisson Santos: Como cuidar do corpo sem se tornar escravo desta busca compulsiva em cuidar dele?
“A gente precisa cultivar a nossa beleza, porque isso também é um gesto de responsabilidade com nossa saúde. Esta beleza é sinônimo de saúde na medida em que você cuida do seu corpo, mas também cuida do seu espírito, da sua alma, do seu psicológico. Eu acredito que o equilíbrio é possível na medida em que você toma a consciência de que o essencial não é a estética.
Cuidar da estética é sempre muito bom, então, se a ciência proporciona às pessoas que elas estejam melhor fisicamente, mais forte ou com uma estrutura corporal mais bonita, é lógico que isto está aí para o ser humano, mas não o ser humano para isto”, respondeu o psicólogo.
O que a Igreja diz sobre cuidado com o corpo
A Igreja, como Mãe, orienta seus fiéis ao cuidado com o corpo com zelo e equilíbrio.
“A vida e a saúde física são bens preciosos doados por Deus. Devemos cuidar delas com equilíbrio, levando em conta as necessidades alheias e o bem comum. (…) Se a moral apela para o respeito à vida corporal, não faz desta um valor absoluto, insurgindo-se contra uma concepção neopagã que tende a promover o culto ao corpo. (…) A virtude da temperança manda evitar toda espécie de excesso” (CIC 2288, 2289 e 2290).
Segundo padre Wagner Ferreira, doutor em Teologia Moral, a intervenção cirúrgica depende de cada caso, sobretudo quando se fala da saúde física e psíquica.
“Se a pessoa quer fazer uma cirurgia após outra apenas por questões estéticas, para atender a esta ideologia do ‘culto ao corpo’ é claro que é imoral. No entanto, à vezes a pessoa está com uma baixa autoestima e com sua saúde psíquica comprometida se sentindo inferiorizada por causa de determinada parte do corpo; neste caso, pode-se fazer a intervenção, mas, antes de tudo, é preciso um caminho que mostre a esta pessoa que a sua beleza está acima da estética”, diz o sacerdote.
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